Durante várias vezes em minha vida, vi pessoas comentando ou a maioria das vezes assisti a reportagens na TV, onde mostravam pessoas que curaram sua depressão com a aquisição de algum animal de estimação. Sempre achei aquilo absurdo, não conseguia alcançar tal entendimento para que na minha cabeça, ou na minha vida aquilo se tornasse real.
Eu sempre estive rodeada de animais, eles sempre foram essencial para mim tal como comer, e não importava o tipo, tive de cachorro e gato até cobras e aranhas. E durante minha pior fase de depressão tive uma pequena-grande companhia, pequena porque se tratava de uma Dauchound especial, uma peludinha muito comum na Europa e no Japão e difícil de ser no Brasil. Ela ficava comigo 100% do tempo, onde quer que eu fosse ela ia me seguindo, seja por quantas horas eu ficasse dormindo deprimida ela ficava ao meu lado na cama, às vezes ela permaneci ali 15, 20 horas comigo seguidas sem comer, beber água ou fazer xixi simplesmente estava ali, eu a enchia de carinha, de desabafos de lágrimas e ela me retribuía estando sempre ali. Mas culposamente vou dizer que não me fez me sentir melhor ou menos triste, além disso, tinha minha gatinha que muitas vezes estava ali comigo também, mas... nada mudava, por isso ver uma melhora em pessoas deprimidas na TV apenas por adquirir um animal não me fazia sentido.
Mas até que um dia algo parecido com essa idéia me fez um sentido, algo que vou comparar aqui e espero não ser mal interpretada pela comparação é somente uma analogia. Eu obtive uma aquisição em minha vida que foi essencial para grande parte da minha melhora, sabe o que foi... meu filhote, sim um filho que me obrigou a sair daquela cama, a enfrentar o dia-a-dia, a ser obrigada a estar acordada, ativa a ter que realizar tarefas, já que ele dependia de mim 100%, claro que não foi da noite para o dia, mudanças não acontecem assim, passei a gravidez inteira, deprimida, com síndrome de pânico, não conseguindo me alimentar, sem medicação, dependendo apenas da terapia, devido a isso tive uma gravidez complicada, com um parto prematuro, um bebe magrinho mas ainda bem saudável, e é até hoje, nunca sequer ficou doente e nos primeiro meses não me deu um trabalho de cólica choros e etc... Ainda nos primeiros meses continuei sem energia, deprimida, com síndrome do pânico, sem conseguir amamentar, ou me sentir conectada ao meu filho, como tudo na minha vida até aquele momento, já que a depressão não nos deixa ver o mundo colorido ou nos permite fazer conexões a ele, mas, aos poucos, fui absorvendo meu papel de mãe e naturalmente fui levantando da cama, achando energia, controlando meu humor (claro com a ajuda da terapia e da medicação que pude retornar a tomar após a amamentação), diminuindo a agressividade, ah e essa diminuição também devo a ele, pois avaliei que não quero meu filho vivendo em uma ambiente desse, se assustando e aprendendo a ser agressivo, tudo que quero é um filho saudável e normal, mas essa mudança começou a acontecer quando ele tinha uns 3 meses, e mês-a-mês algo acontecia e percebi algo que minha psicóloga insistia em dizer e que desde de que tive o Arthur ela falava mais e mais “ter objetivos na vida”, que até os 6 meses dele eu realmente não tinha, mas ali comecei a ter vontade de viajar em família, proporcionar uma boa vida a ele, fazer minha parte na vida a dois e para isso tinha que mudar minha atitudes, pensamentos e energia, mas sabemos o quão difícil é isso, estou tentando até hoje, e vou tentar todos os dias pelo resto de minha vida pois sei que não vou me curar totalmente apenas aprender a conviver da melhor maneira possível com minha doença. E um passo importante para tudo isso acontecer foi trabalhar, e tem sido muito saudável, sabemos que um problemas de todos os boderlines é se manter em um trabalho, me vigio a todos os minutos, reflito a cada atitude fico na expectativa de bater meu Record de tempo em serviço e na verdade mesmo que daqui pra frente eu trabalhe 10 aos, vou continuar me vigiando e me preocupando se vou conseguir chegar ao final de mais um mês.
Eu sei que eu em 11 meses alcancei um bom pedaço atrasado do caminho da vida, ah caminhei bastante, não o suficiente, mas acredito que como continuamos a caminhar até o final de nossa vida, nunca será o suficiente e, portanto me aproximo de uma vida “normal” a cada passo, normal entre aspas porque quem sabe o que é normal, cada um tem seu jeito de viver a vida. E digo emocionada que meu trajeto de vida deixou de ser sinuoso graças ao Arthur e aos objetivos traçados na espera de alcançá-los, claro que outras coisas e pessoas contribuíram, e que uma vez caminhando só adiciono outras coisas, pessoas e situações que vão complementando, movendo, energizando minha vida, meu dia, minha caminhada. E hoje sem terapia com os presentes que recebo a cada dia vou enfrentando as dificuldades, coisa que antes mesmo com terapia eram difíceis de serem enfrentadas, dizer que é fácil, digo não é, dizer que é fácil controlar atitudes, emoções e pensamentos não são que é fácil ter que respirar fundo, engolir as coisas, sufocar a raiva e a carência, não é, dizer que enfrentar o dia-a-dia, o mundo que está lá fora, não é, mas posso de dizer que acabei de perceber que consigo compreender um email que certa vez recebi de minha psicóloga, um que dizia que cada dia é um presente de Deus, que devemos aceitá-lo e desembrulhar o pacote e aceitar tudo aquilo que está lá dentro, e a questão aqui não é Deus, pois não sou muito religiosa.
Claro que não estou dizendo que ter um filho é a solução dos problemas, só estou repassando o que funcionou comigo, e posso dizer que hoje que penso diferente ao ouvir dizer que alguém melhorou de sua depressão graças a um animalzinho!!